Por Andréa Ladislau, psicanalista
A polêmica do momento gira em torno da cantora sertaneja Maraisa que, através da letra de uma de suas músicas, associa a falta de caráter à pessoas portadoras do Transtorno de Personalidade Borderline.
Na luta pelo preconceito em relação à saúde mental é, no mínimo, um retrocesso em prol do acolhimento e informação sobre o adoecimento psíquico. Caráter e Borderline em nada se esbarram. A condição clínica de uma pessoa com transtornos psiquiátricos não é entretenimento.
O Border é uma emoção intensa, uma emoção acumulada. É fundamental o cuidado e responsabilidade com a cultura da exposição digital, das falas que potencializam o preconceito e os estigmas sobre a saúde mental. E sendo uma pessoa pública, essa responsabilidade é ainda maior, pois pessoas com diagnósticos mentais podem vir a sofrer violência, discriminação e isolamento.
O Transtorno de Personalidade Borderline é um tipo de sofrimento psíquico que não está fixado em delírios ou alucinações, mas sim em uma expressiva instabilidade subjetiva que fica na linha de fronteira entre a neurose e a psicose.
Mas o que seria realmente esse transtorno e de que forma ele se manifesta? Algumas pessoas até usam, muitas vezes, até sem saber exatamente do que se trata, o termo “Borderline” para classificar pessoas que possuem alterações de humor. Mas não é isso.
A personalidade Borderline corresponde a um transtorno mental que se manifesta, especialmente, através de demonstrações reais de instabilidade emocional muito acentuada. Muitos ainda confundem essas manifestações com o Transtorno bipolar, mas sãos distúrbios com características distintas. Para evitar confundir, se faz necessário a análise de suas diferenças.
Dentro do comportamento Borderline podemos evidenciar: automutilação, comportamentos compulsivos, hostilidades, falta de moderação, comportamentos autodestrutivos e fobias severas.
Um misto de sentimentos pode motivar os comportamentos, como por exemplo: culpa, ansiedade, perda de interesse, falta de prazer pelas atividades que desenvolve, solidão e tristeza.
O paciente vê sua imagem distorcida e se alimenta de uma paranoia, associada ao narcisismo e a depressão. Neste sentido, como a instabilidade emocional é muito intensa, os Bordeline´s costumam ter problemas em seus relacionamentos pessoais, perdendo laços afetivos, familiares e de amizade.
Porém, tudo está associado a essa incompreensão de si mesmo, acrescido da intensidade de suas emoções acumuladas.
É muito importante destacar que o portador do transtorno, não pretende causar mal a ninguém e nem a si mesmo, no entanto, o seu desequilíbrio emocional abrupto, cega suas ações e, inconscientemente, criam uma espécie de insanidade temporária que é o que vai dificultar as relações.
Portanto, o Borderline é definido pelo medo do abandono, do vazio existencial e a angústia constante. Ele sofre e explode em emoções. Isso não tem nada a ver com falta de caráter.
O episódio em questão com a cantora Maraísa só reforça o preconceito. Transtornos psiquiátricos não podem ser classificados como dramas e, muito menos, piadas. Afinal, a instabilidade emocional não é escolha e nem frescura.